texto: Bruno Pavão
Seu Cheiro
Não tomamos conta
Nem nos damos conta
De olhos fechados, é mais fácil enxergar
O cabernet ajudou, confesso, a perceber, mas embora não tenha
me dado conta de que seu cheiro importa, seguia com o tato.
Uma paz, seguida de um subir de frio, só conseguia me concentrar
em seus lábios, sua respiração conduzia meus impulsos, tamanha
sintonia.
Uma música veio traduzir, como se tivéssemos pulado ondas, feito oferendas, jogado
flores, as palavras completaram.
Lembrei de minhas mãos, naquele momento só me dei conta de uma
que acariciava seu rosto, a outra havia sido esquecida em seu colo, mas
como querer se ter controle, se um turbilhão de emoções nos faz reduzir-se a instintos.
Semi-serrei os olhos, pude contemplar um contra-luz provindo de um poste
que iluminara seus cabelos e contornava toda aquela magia.
Me despedi, estava frio, mas não o sentia.
Com aquela música em minha cabeça levei as mãos a face, olhei para trás,
mas ela não estava mais lá.
Naquele momento dei-me conta de que aquele cheiro seria irreversível em minha
memória, estará marcado pelo resto de minha vida em meu coração.